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Entendi e Fechar
O futuro do campo depende deste senhor
A chegada do geneticista Pedro Arraes Pereira ? presid?ncia da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecu?ria (Embrapa), em meados de julho, ? um exemplo que o governo deveria adotar como regra. Ele foi ungido pela meritocracia -- o sistema baseado no reconhecimento do saber e do desempenho --, e n?o por liga??es pol?ticas, como ? comum ocorrer na nomea??o de chefes de institui??es p?blicas.

Aos 56 anos, Arraes, como ? conhecido, cuja m?e era prima do socialista Miguel Arraes, ex-governador de Pernambuco, ? o primeiro presidente da Embrapa escolhido por meio de consulta a seus pares e tamb?m a representantes do setor produtivo. Para conquistar a dire??o da estatal, considerada a maior institui??o de pesquisa agropecu?ria tropical do planeta, al?m de exibir um belo curr?culo no ramo da gen?tica do feij?o, Arraes teve de provar ser um bom administrador e estar sintonizado com os enormes desafios que a Embrapa tem pela frente.

Seu nome, ap?s ampla consulta, foi parte de uma lista de candidatos apresentada pelo conselho de administra??o da empresa ao ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes. A nomea??o tamb?m passou pelo crivo do presidente Luiz In?cio Lula da Silva. Felizmente, Lula ignorou o bombardeio de setores do PT, contr?rios a Arraes. A despeito de seu sobrenome, Arraes ? um t?cnico apartid?rio e mant?m bom relacionamento com lideran?as do agroneg?cio. "N?o conhecia o Pedro at? sua indica??o", diz Stephanes. "Mas estou certo de que ele saber? guiar a Embrapa na gera??o das novas tecnologias imprescind?veis ? agricultura brasileira."

Arraes assume a empresa num momento crucial. O agroneg?cio brasileiro, hoje considerado o mais competitivo do mundo -- em boa medida gra?as ?s tecnologias desenvolvidas pela Embrapa em d?cadas passadas --, est? diante de novos problemas. Um dos maiores ? o que vem da mudan?a clim?tica do planeta e, consequentemente, da press?o de ambientalistas.

O questionamento serve a concorrentes de outros pa?ses, que tentam manter barreiras a produtos como o etanol e as carnes brasileiras. O avan?o das pesquisas da Embrapa em ?reas como o uso mais produtivo da terra e da ?gua ? vital para o Brasil rebater as cr?ticas e defender a agropecu?ria. Ap?s atravessar uma fase de decl?nio no come?o da d?cada, a Embrapa est? em processo de recupera??o. Silvio Crestana, o antecessor de Arraes, teve de superar a maior crise em 36 anos de hist?ria da institui??o, causada pela tentativa de seu aparelhamento pol?tico pelo PT no in?cio do governo Lula e pela aposentadoria da primeira gera??o de cientistas.

Arraes ter? de consolidar o aprimoramento da gest?o deflagrado por Crestana. "Em raz?o de seu tamanho e import?ncia para o pa?s, a Embrapa ? como um transatl?ntico", diz Arraes. "Ela precisa se modernizar, mas esse processo tem de ser cont?nuo e muito bem dosado para n?o virarmos um Titanic."

Ele reconhece que, para n?o naufragar, a Embrapa precisa se tornar mais ?gil e focada, produzindo resultados palp?veis em pelo menos duas frentes de pesquisa. A primeira ? a cria??o de novas variedades de gr?os, como a soja e o milho, resistentes ao aumento da temperatura e ? seca, fen?menos que devem se agravar.

O segundo front ? a inven??o de t?cnicas que aumentem a produtividade agr?cola, seja em rela??o ? ?rea ocupada, seja pela redu??o do uso de fertilizantes e defensivos. Tal meta atende ? cobran?a da sustentabilidade, de mitigar o impacto ambiental da agropecu?ria e evitar mais desmatamento. Nesse quesito, a Embrapa precisa investir simultaneamente no melhoramento gen?tico de plantas e animais e em pesquisas para a recupera??o de pastagens degradadas.

A li??o de casa de Arraes e sua equipe de 2 100 pesquisadores n?o se esgota a?. Para manter a posi??o de destaque, a Embrapa ter? de ampliar as parcerias com outros centros de pesquisa biotecnol?gica. A biotecnologia, em especial o desenvolvimento de produtos transg?nicos, ? um campo em que a estatal ficou para tr?s.

"As descobertas da Embrapa no final do s?culo passado, que permitiram o cultivo da soja, antes um gr?o de zona temperada, em pleno cerrado brasileiro, s?o merecedoras de um pr?mio Nobel", diz o economista americano Peter Goldsmith, diretor do centro nacional de pesquisa da soja da Universidade de Illinois. "Mas, de agora em diante, ela ter? de aprender a competir e a cooperar intensamente com concorrentes de vulto, sejam eles universidades, outras estatais ou os gigantes do agroneg?cio."

At? o final do ano, a Embrapa dever? ter uma d?zia de pesquisadores residentes em institui??es como o Servi?o de Pesquisa Agr?cola dos Estados Unidos, o maior centro do g?nero no mundo, e em mais quatro institui??es na Europa e na Ásia. Mas precisar? acelerar o passo em parcerias desse tipo se quiser reconquistar o tempo perdido. "Temos de reconhecer que as sementes de soja resistentes a herbicidas Roundup, lan?adas pela Monsanto nos anos 90, s?o o melhor vegetal transg?nico da hist?ria", diz Elibio Rech, pesquisador s?nior da Embrapa.

Em resposta ? cria??o da Roundup, a estatal se associou ? alem? Basf para criar uma nova variedade de soja transg?nica, numa pesquisa liderada por Rech. Iniciado h? dez anos, o projeto, estimado em 15 milh?es de reais, produziu uma planta resistente a herbicida. Hoje em testes, a nova semente deve ser aprovada at? 2012. "Sempre buscamos os parceiros mais competentes", diz Walter Dissinger, vice-presidente da Basf. "O projeto com a Embrapa ? promissor."

Assim como na soja, a Embrapa tem ficado para tr?s em biocombust?veis e na pesquisa biotecnol?gica da Amaz?nia. A expectativa ? que Pedro Arraes, com vis?o pragm?tica do agroneg?cio e com o or?amento da Embrapa revigorado, consiga trabalhar isolado de inger?ncias pol?ticas para fazer na gest?o da empresa o que fazia em laborat?rio com o feij?o -- aprimorar seus genes.


Fonte: Revista Exame

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