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Estudo in?dito mostra avan?o da cana sobre pastos
A expans?o do cultivo de cana-de-a??car no Centro-Sul do Brasil, maior regi?o produtora no Pa?s, est? se dando em ?reas de pecu?ria e de cultivos agr?colas, e n?o ? causa direta do desmatamento na Amaz?nia, concluiu o estudo "Prospects of the Sugarcane Expansion in Brazil: Impacts on Direct and Indirect Use Changes" (Perspectivas da Expans?o da Cana-de-A??car no Brasil: Impactos em Mudan?as de Uso Diretos e Indiretos), feito por pesquisadores do Instituto de Estudos do Com?rcio e Negocia??es (Icone), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, a Esalq, da USP. O estudo utiliza imagens de sat?lite ― o ?nico at? hoje ― e identifica as novas ?reas de cultivo de cana e quais atividades ela est? substituindo. Os dados mostram que a cana apresenta tend?ncia a ocupar pastos, e n?o ?reas florestadas, em seu processo de expans?o.

O artigo constitui o Cap?tulo 3 do livro Sugarcane Ethanol: Contributions to Climate Change Mitigation and the Environment (Etanol de Cana-de-A??car: Contribui??es para a Mitiga??o de Mudan?as Clim?ticas e o Meio Ambiente), da Wageningen Academic Publishers, editado por Peter Zuurbier e Jos van de Vooren. Ambos s?o gestores do Escrit?rio da Am?rica Latina da Universidade e Centro de Pesquisa Wageningen, da Holanda, um dos maiores centros de estudo e pesquisa em ci?ncias agr?rias do mundo. O escrit?rio est? instalado na Esalq desde 2007, quando a institui??o da USP e a universidade holandesa fecharam um acordo de coopera??o. Apesar de o livro ter sido publicado em 2008, ele s? ganhou relev?ncia este ano, especialmente ap?s ter sido distribu?do pela Uni?o da Ind?stria de Cana-de-A??car (Unica) na edi??o deste ano do Ethanol Summit. A Unica n?o apoiou a realiza??o das pesquisas, apesar de ter uma parceria com o Inpe para o desenvolvimento do programa de monitoramento por sat?lite das ?reas produtoras do Centro-Sul ― contribuiu apenas na divulga??o do livro.

"At? onde sabemos, ? o primeiro estudo em que a quest?o do impacto direto da expans?o da cana foi avaliada", afirma Laura Barcellos Antoniazzi, do Icone, uma das autoras do artigo. Outros dois estudos de 2008 ― um da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), "Perfil do Setor de A??car e ?lcool no Brasil"; e outro do Instituto de Economia Agr?cola (IEA), "Din?mica e Tend?ncia da Cana-de-A??car sobre as Demais Atividades Agropecu?rias, Estado de S?o Paulo, 2001-2006" ― foram feitos com base em dados secund?rios e em entrevistas com produtores.

A pesquisa foi feita a partir de tr?s bases de dados: imagens de sat?lite geradas pelo programa CanaSat, do Inpe; dados levantados pelo IBGE sobre a produ??o agr?cola e pecu?ria; e relat?rios de impacto ambiental produzidos pelas usinas, no qual elas relatam seu plano para produ??o ― quanto vai produzir, quanto de ?rea precisa, em que ?reas vai plantar, e o que havia nessas ?reas antes do cultivo da cana. Essa an?lise com dados secund?rios complementa a an?lise por sat?lite.

"Pelas imagens de sat?lite, pudemos ver o que havia antes e depois do plantio da cana. ? uma forma muito eficaz de verificar os efeitos diretos, n?o h? dupla interpreta??o", enfatiza Laura. A pesquisa concentrou-se no Centro-Sul, a ?rea mais relevante de expans?o da cana. Foram analisados dados do Paran?, de S?o Paulo, de Minas Gerais, de Mato Grosso, de Mato Grosso do Sul e de Goi?s. A ?rea de produ??o do Nordeste est? praticamente estagnada. Segundo a pesquisa, o crescimento da produ??o de cana, entre 2005 e 2008, foi de 16% ao ano no Centro Sul e de 2% no Nordeste.

As imagens de sat?lite mostram que, entre 2007 e 2008, pastos e agricultura foram as classes de uso da terra substitu?das por cana. Juntas, foram respons?veis por 98,1% da ?rea substitu?da, de 2.185 mil hectares. Do total da expans?o da cana, 45,4% ocuparam pastos e 52,7% ?reas de agricultura; 1,3% da cana nova foi plantada em ?reas que eram dedicadas a frutas c?tricas em ano anterior. Apenas 0,58% da cana nova foi cultivada em ?reas florestadas ou reflorestadas. O estudo mostra uma tend?ncia em quase todos os Estados do Centro-Sul: a cana est? se expandindo mais em ?reas de pasto e reduzindo a entrada em terras para agricultura. Em 2007, 56% da expans?o no Centro-Sul havia se dado em ?reas de agricultura e 42% em pastagens. Em 2008, a expans?o foi de 50% nas terras agr?colas e 48% em pastos.

Impactos na produ??o de carne - A expans?o da cana est? se dando sobre ?reas de pastagens degradadas, como afirmam os usineiros? O estudo n?o responde essa quest?o. "N?o d? para saber pela imagem de sat?lite a condi??o da pastagem", responde Laura. "Durante esse per?odo, a ?rea de pastagem no Estado de S?o Paulo diminuiu, mas n?o ocorreu o mesmo com o rebanho. Isso aconteceu em outros Estados", acrescenta. Ao cruzar os dados secund?rios sobre produ??o de gado e carne com as imagens de sat?lite indicando que a cana est? indo para os pastos, os pesquisadores obtiveram um ind?cio de que as pastagens n?o estavam sendo bem utilizadas. "Como o rebanho se manteve est?vel ou at? cresceu em alguns casos, tivemos uma intensifica??o da pecu?ria, e isso faz com que n?o haja necessidade de novas ?reas de pasto para acomodar o rebanho", explica a pesquisadora.

O dado ? importante porque se relaciona ? discuss?o do impacto indireto da expans?o da cana-de-a??car para atender o aumento da demanda por etanol. H? um pressuposto na teoria do impacto indireto de que a entrada de cana em ?reas de pastagem levaria a atividade pecu?ria para outras regi?es, que produziriam alimentos ou seriam florestadas. "H? quem argumente, ainda, que dever?amos aumentar a produ??o de carne por causa da amplia??o da demanda, mas a? as mudan?as de uso da terra seria uma quest?o relacionada ao aumento da demanda por carne, e n?o ao crescimento da demanda por etanol", aponta. "Nossos dados s?o suficientes para dizer que o aumento ou a manuten??o do rebanho n?o requerem novas ?reas de pasto", atesta Laura.

Alimentos - A cana est? substituindo a produ??o de alimentos, j? que os gr?ficos mostram que, tirando S?o Paulo, todos os Estados tiveram avan?o da cana para ?reas agr?colas? "Temos aqui tamb?m a quest?o do aumento de produtividade nas ?reas agr?colas. Da mesma forma que a intensifica??o da pecu?ria ? um processo de aumento de produtividade, h? um similar na agricultura", responde a pesquisadora. Aqui entra uma hip?tese, ainda puramente te?rica: conforme h? ganho de produtividade, ocorre a concess?o de ?reas para outras atividades. "Isso est? acontecendo, mas em taxa menor do que na pecu?ria, porque s?o atividades agr?colas muito produtivas. A pecu?ria est? bem abaixo do potencial", diz.

A pesquisa do Icone, do Inpe e da Esalq n?o diz quais cultivos est?o sendo substitu?dos pela cana. Fazer essa an?lise requer uma leitura extremamente detalhada das imagens de sat?lite do CanaSat e o uso de imagens de v?rios anos, o que seria uma pesquisa ? parte, dada sua complexidade. "Sabemos pelos dados secund?rios que a maior parte da substitui??o ? de gr?os ― soja, milho, algod?o. E temos visto que os gr?os entram em ?reas de pastagem", conta Laura. Isso foi visto pelos pesquisadores na an?lise dos dados secund?rios, obtidos no IBGE.

A expans?o agr?cola, de 2002 a 2006, foi de 3,3 milh?es de hectares; 1 milh?o de hectares foi a expans?o de cana, isso em dez estados estudados pelo IBGE. A pesquisa trouxe dados dos estados monitorados pelo CanaSat mais a Bahia, o Maranh?o, o Piau? e o Tocantins. "O exerc?cio foi ver onde houve crescimento de cultivo de cana nesses lugares e o que houve com o total da agricultura, se aumentou ou diminuiu a ?rea plantada. ? um exerc?cio te?rico, pois n?o temos as imagens de sat?lite", explica Laura.

Pelos dados secund?rios, os pesquisadores viram que, em S?o Paulo, houve um acr?scimo de 639 mil hectares de cana; e 460 mil hectares de pasto e 115 mil de agricultura diminu?ram nesse per?odo. "Pode ser que a cana n?o tenha ido diretamente sobre o pasto, mas que tenha entrado em ?rea de soja, e a soja em ?rea de pasto. N?o podemos dizer com certeza o que ocorreu, mas com os n?meros podemos ter uma no??o da movimenta??o geral", afirma. Desse 1 milh?o de hectares ocupado pela expans?o de cana no per?odo, o estudo sup?e que a cana tenha ocupado 773 mil hectares que eram pasto, e 103 mil hectares que eram ocupados por alguma atividade agr?cola. Outros 125 mil s?o identificados como ?rea de expans?o de cana que n?o se deu sobre ?reas produtivas anteriores, caso das florestadas e reflorestadas.

Impacto ambiental - O outro conjunto de dados analisados pelos pesquisadores foram os relat?rios de impacto ambiental (EIA-Rima) feitos pelas usinas. "Verificamos, de forma emp?rica, o que vimos nas imagens de sat?lite e nos dados secund?rios", conta Laura. Nesses relat?rios, os pesquisadores viram que, quando planejam plantar cana em ?rea que era de pasto, os produtores de cana precisam preparar o solo antes. Para isso, fazem um ou dois anos de plantio de soja ou algum cultivo que reponha os nutrientes do solo.

"Isso apareceu em praticamente todos os estudos de impacto ambiental analisados e trouxe um ind?cio importante: a grande participa??o da agricultura nas imagens de sat?lite pode ter ocorrido porque havia muita ?rea sendo preparada para cana", destaca a pesquisadora. Somente estudando anos anteriores ao do cultivo da cana nas ?reas de expans?o seria poss?vel verificar se a ?rea era pasto e estava sendo ocupada provisoriamente com gr?os, como fase de prepara??o do solo, ou se realmente a cana em expans?o entrou em uma ?rea de agricultura. "N?o sabemos o quanto dessa ?rea de agricultura ? prepara??o para cana, mas pelos EIA-Rimas sabemos que isso ocorre", revela. Outra informa??o interessante obtida nos EIA-Rimas ? que a maior parte dos produtores j? preveem a planta??o de culturas anuais na hora de fazer a reforma no canavial, outra pr?tica para melhorar a qualidade do solo. A cada quatro ou cinco anos, eles retiram a cana plantada e colocam uma muda nova, processo chamado de reforma do canavial. Em geral, as propriedades fazem um rod?zio de ?rea, deixando 1/3 da propriedade para reforma e os demais em produ??o. "Se a gente pensar que, a cada cinco anos, renova-se 1/5 da ?rea de uma usina, temos 1/5 da ?rea de cana onde tamb?m se plantam culturas anuais", aponta Laura. Esse argumento, na vis?o dos pesquisadores e do setor sucroalcooleiro, esvazia em muito o debate alimentos versus biocombust?veis.

O texto completo desta reportagem est? no endere?o http://www.inovacao.unicamp.br/

Fonte: Di?rioNet

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